Recenseadora de SC visitou mais de 1,8 mil unidades e faturou mais de R$ 11 mil em 2 meses

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

21/10/2022 14h55 | Atualizado em 24/10/2022 08h52

Com “fé, foco e determinação”, de acordo com estimativas ao final do trabalho Marga terá cadastrado cerca de 10% do município de Campos Novos para o Censo 2022

Em dois meses, Maria Margarete Bittencourt, a Marga, de Campos Novos/SC, é a recenseadora com maior produtividade dentre os 19 municípios da área de Joaçaba, meio-oeste do estado. Ela já visitou mais de 1,8 mil domicílios e recenseou mais de 4 mil pessoas - mais de 10% da população campo novense se comparado às estimativas de 2021. O trabalho rendeu a ela mais de R$ 11 mil, fora os ganhos de 13º e férias proporcionais, já descontado o auxílio locomoção.

Com cinco dos 81 setores censitários de Campos Novos, Marga tem dois concluídos, dois em fase final e o de Ibicuí, que está em andamento. O município tem 35% dos setores concluídos e 45% em andamento. Mesmo com 62% das vagas preenchidas, Jeckesan Ferraz de Deus, ou Jeck, coordenador de área de Joaçaba, diz que Campos Novos está conseguindo manter o prazo previsto: “Apesar de tudo, nossos recenseadores estão se esforçando. Mas se não fossem perfis como o da Marga e mais uns três de alto rendimento, estaríamos fora do prazo.” Marga tem uma média de 37 unidades/dia, enquanto a média geral é de 18.

Curioso com os números de desempenho da recenseadora, Jeck foi até o vilarejo de Ibicuí, no extremo do município, conhecê-la. “Ela é tão focada, foi difícil encaixar horário na agenda da Maria Margarete.”, diz ele. Nas ruínas de uma antiga igreja registrada por Marga, Jeck gravou um bate-papo com ela, disponível em seu canal no youtube.

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A lida no Censo

“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.” Esta é a mensagem que Marga repete quando fala de seu trabalho: “Todo lugar eu tento chegar com energia positiva, com o pensamento de que tudo vai dar certo. Procuro ter calma e transmitir isso, trocar energia boa. Tem pessoas que não sabem o que é, aí tem que explicar, mas eu chego de forma leve e quando vejo a pesquisa já está fluindo.”

Apesar do trecho do Pequeno Príncipe vir a calhar, nem tudo é romantizado no trabalho do recenseador. Atualmente, todo dia Marga acorda cedo, se arruma, e parte para percorrer o vilarejo de Ibicuí, local sem sinal de celular, 20 quilômetros do posto de coleta mais próximo. “Todo dia venho de manhã e volto à noite. Trago meu lanchinho, como aqui e faço a coleta. Faço em média 37 unidades por dia. Chego em casa às 18h, tomo um café e volto fazer as pendências na área mais urbana, com a ajuda do meu marido. Procuro fazer no mínimo 10 casas à noite.”

Focada, Marga entrou com o objetivo de juntar dinheiro: “Quando entrei, o meu foco era ganhar R$ 5 mil por mês e tenho certeza que vou ganhar R$ 5 mil ainda mês que vem. Fui vendedora, gerente de loja e sempre trabalhei com metas. É questão de se adequar com o teu trabalho e ganhar tempo para conseguir produzir.” Entre seus objetivos, propôs-se a trabalhar o período do Censo sem folga: “Faço final de semana, sábado e domingo o dia todo. São os dias que eu mais pego pessoas em casa, que elas estão disponíveis, não estão cansadas, não estão com pressa. No feriado de 7 de setembro fiz 45 questionários. Depois do Censo a gente descansa.”, completa. 

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Dificuldades, ausências e negativas

Além do esforço diário, Marga conta alguns casos pelos quais já passou e como teve que usar jogo de cintura para conseguir reverter: “Uma vez teve uma pessoa no interfone em um apartamento de um prédio que disse ‘não vou, não quero, não vou responder’. Entrei para entrevistar outros moradores, insisti tocando a campainha e ele falou: ‘Tá bom’. Muitas vezes, se chegar com jeito, a gente faz dar certo. Outra vez teve um morador que disse: ‘Porque não vai procurar pessoas que não têm o que fazer para fazer esta pesquisa?’ Eu expliquei que era importante, para o país, para mim, para os filhos dele, terminei o trabalho e disse a ele: ‘Eu nunca fui tão maltratada como fui na sua casa.’. Outro dia ele me encontrou na rua, parou o carro e veio pedir desculpas”.

Em muitos casos, a insistência é sinônimo de resiliência: “Uma vez teve uma mulher que eu caminhei uma quadra inteira junto com ela, porque ela não quis parar para respondever ar, e teve várias pessoas que eu via na janela que a pessoa estava e não me atendia. Depois que eles viam eu recenseando a vizinhança, aí quando batia de novo me atendiam, não sei se por ganhar confiança ou por pena de me ndando ali”.

Sobre as ausências, ela já adotou algumas estratégias: “Nos prédios que fiz, conversei com as síndicas e elas facilitaram para mim. As pessoas que eu não consigo elas passaram o telefone. Em casas que geralmente estão vazias, eu pergunto para o vizinho sobre a pessoa ao lado, porque às vezes é um filho, um irmão e você consegue. Isso ajuda a desempenhar melhor e aproveitar o tempo.”

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Uma vida de superações

Há 30 anos, divorciada e mãe de duas crianças, Marga precisou correr atrás do sustento de sua família: “Fiquei sem casa quando me separei e tinha que batalhar muito para suprir as necessidades dos meus filhos. Meu sonho era ter minha casa própria”. Por 20 anos, morou em diferentes cidades – Blumenau, Anita Garibaldi, Monte Carlo e Fraiburgo – trabalhou com períodos de jornada dupla, e incluiu um extra de diarista quando o pai faleceu, para ajudar a pagar a funerária: “Foram períodos não muito fáceis, passei momentos da minha filha me pedir uma bolacha e eu não ter para dar e aprendi a ir à luta. Mas sempre tive um objetivo de vencer na vida para que os meus filhos tivessem orgulho da mãe.”

Com o passar do tempo, Marga conseguiu comprar um lote e sua casa própria, em Campos Novos, que manteve alugada enquanto trabalhava em outros municípios. Em Monte Carlo, conheceu o atual marido e dez anos depois, com os filhos crescidos e a vida mais assentada, retornou para a cidade natal. Hoje com 58 anos faz artesanato em casa, trabalha como autônoma e atua como voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer. Mais recentemente, encarou o desafio de voltar a estudar depois de 40 anos para passar nos exames do treinamento para recenseadora. 

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 Objetivos e representatividade

Para seus ganhos financeiros, Marga tem planos: “Eu e meu marido somos parceiros. Com meu trabalho já reformei a casa, ajudei a fazer uma área de festa, trocamos de carro, agora estou pensando em um pedaço de piso na área externa. Quero dar uma ajeitadinha ali e ter uma reserva para uso emergencial.”

Sobre o significado de seu trabalho no Censo, ela observa: “Me sinto feliz sendo útil para o país e para as pessoas. Vamos ter as informações, saber a condição de vida de cada cidade e de nós todos, a perspectiva de vida. Isso é muito importante na hora de reivindicar verba para nossa cidade e eu me sinto muito feliz de poder participar dessa atualização para suprir as necessidades do nosso município.”

Mesmo com as dificuldades, quanto à satisfação pessoal que encontrou no trabalho em campo, ela observa: “Eu nunca trabalhei no Censo antes, mas eu gosto muito de me comunicar, adoro conversar com as pessoas. Eu entendo que estou invadindo um pouco a privacidade da pessoa e tenho que fazer isso de maneira agradável”. E conclui: “Várias vezes eu preciso dizer: ‘Eu tenho que ir para cumprir minha meta’, mas é muito bom escutar: ‘Volta outro dia!’.”.

 

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