Colaboração de crianças e susto com animais: recenseadoras relembram momentos do Censo no Amazonas
07/03/2023 09h19 | Atualizado em 07/03/2023 09h19
“Muitos adultos têm resistência em receber o recenseador, e a inocência de uma criança faz a diferença”. Com essa frase, Elane Ramos, que atuou como recenseadora em Manaus (AM), durante seis meses, resume o que vivenciou durante as visitas aos domicílios, quando crianças a ajudaram a criar lindas memórias da experiência que viveu no Censo 2022.
“Eu tive boas companhias no bairro da Redenção, quando fui fazer o Censo, e essa companhia foi a das crianças, que me acolheram, me ajudaram e me trouxeram também muitos risos! Tinham momentos em que eu estava do outro lado da rua, no caso, eram becos, e quando as crianças me viam, gritavam: - IBGE! IBGE! Eu acenava e, logo depois, ia lá com elas”, relembra.
Para Lane, ter trabalhado com o apoio das crianças do bairro foi uma felicidade: “motivo de satisfação, de alegria, de privilégio! Um marco na minha trajetória, nesses meses em que estive no Censo”, resume. Para ela, “as crianças têm um papel muito importante para o Censo, mesmo sem compreender isso muito bem. Elas iam até a porta dos moradores comigo e diziam: - a moradora está em casa sim; é fulana que mora aqui!”.
As crianças do bairro da Redenção foram motivação para o trabalho da recenseadora: “elas me ajudavam de forma inconsciente, me acompanhavam, e quando eu passava, davam bom dia, boa tarde, e eu sentava com elas, conversava, descansava do sol ardente”.
Elane até chegou a participar de uma reportagem para a TV, para mostrar o trabalho dos recenseadores no Censo e, de acordo com ela, quando as crianças viram a equipe da TV, “ficaram maravilhadas!”, e completa: “acredito que se hoje eu for lá, as crianças ainda vão lembrar de mim, vão ser receptivas da mesma forma e ainda vão contar essa história no futuro porque fizeram parte dela também”.
Feliz por fazer parte da história do Censo
Além da receptividade dos pequenos, Elane também guardou na memória a oportunidade que agradece por ter tido, de viver experiências no Censo, e conta que se admirava ao ver pessoas de diferentes faixas etárias trabalhando como recenseador (a) no Censo. “Não tem limite de idade, todos podem fazer o processo seletivo do IBGE para recenseador, cujo pré-requisito é ter o Ensino Fundamental, e fazer parte do Censo. E eu ver senhores e senhoras andando pelas ruas, colhendo as informações, os dados dos moradores, e levando isso para a família… Alguns desistiram e alguns persistiram e ficaram até o final, então é gratificante”, disse ela.
Agora ex-recenseadora, ela disse que se sente feliz por ter feito parte da história do Censo 2022, e acredita que sua filha e neta também terão o Censo na memória, e quem sabe até viverão suas próprias experiências no Censo, no futuro: “minha filha, quando me via com o uniforme, dizia: - você já vai trabalhar, mãe? Que legal! Quando eu crescer também quero trabalhar no IBGE! E eu contando as histórias do Censo, ela ficava mais motivada ainda. Tenho certeza de que isso vai ficar na memória dela, que tem 11 anos, e da minha neta, que tem dois, pois vou contar para ela também”.
Ao falar sobre o seu árduo trabalho como recenseadora, percorrendo trajetos difíceis, sob o sol, por becos com muitas subidas e descidas, em aglomerados subnormais de Manaus, Elane tem apenas gratidão: “eu vou levar para a minha vida toda! Agradeço ao IBGE, de coração aberto, e aos meus coordenadores, ao Sr. Célio, maravilhoso, ao Felipe, e foi muito bom, muito maravilhosa essa experiência!”.
Ataque de bichos, lama, seca e “prego” no rio
Na comunidade Paraná-Mirim, Zona rural de Careiro da Várzea (AM), a recenseadora Maria da Glória tem outros tipos de emoções para relembrar, quando o assunto é Censo 2022. Ela lembra de quando precisou “interagir” com animais locais: “aconteceu uma situação inusitada de uma vaca vir para cima de mim, e o barqueiro que estava me acompanhando viu a situação e até filmou. A vaca estava sozinha, então começou a mugir para chamar os outros (bois e vacas) para nos atacar (risos). Aconteceu também de uma porca querer me atacar, e eu estava sozinha nessa situação, e a porca veio para cima e não deixou eu passar de jeito nenhum!”, conta rindo, agora que passou o susto.
Mas essas não foram as únicas situações “engraçadas” pelas quais Glória passou no Censo. Ela lembrou de quando ficou presa na lama, algo típico da região que é de Várzea. “Eu fiquei atolada, com os pés presos na lama”, isso enquanto o barqueiro, seu parceiro no trabalho, filmava tudo e se divertia com as tentativas frustradas de Glória atravessar o trecho enlameado, mas é claro que depois ele a ajudou a sair sã e salva da situação.
“Além disso, tiveram umas situações nas águas amazonenses: uma em que o nosso barco passou por um trecho com muito capim (ao redor), e eu acabei me molhando toda”. E ainda, por causa da seca dos rios do Amazonas, que se acentua no último trimestre de cada ano, em alguns momentos, o barco tinha muita dificuldade para passar por rios já muito secos, chegando a nem atravessar, “e então nós precisamos caminhar, percorrer vários quilômetros contornando o rio, para chegar a algumas casas porque não daria para ir de barco”, relembra.
Mas, apesar dos sustos, Maria, assim como Elane, só guarda gratidão pelo IBGE e pelo Censo, por sentir que fez a diferença com o seu trabalho: “nas localidades que visitei, só esperam melhorias; viver com um pouco de dignidade. Ouvi sempre o mesmo pedido: uma água de qualidade e o direito de ir e vir, que são prejudicados pela falta do Poder Público e por poucas políticas públicas”.
Para resumir seu sentimento, ela disse que se sentia em casa, a cada domicílio visitado, e que “era muito bem acolhida nas comunidades, muito bem tratada”, e mais, que: “se pudesse, todos os anos faria este trabalho com prazer!” Agradecendo ao IBGE, ela também destacou que “só assim, de porta em porta, vamos descobrindo os avanços e os regressos do nosso Brasil”.