No Ceará, acesso aos condomínios é um dos maiores desafios para a conclusão do Censo 2022

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

09/02/2023 15h54 | Atualizado em 09/02/2023 15h55

Chegando agora à sua reta final no Ceará, o Censo Demográfico 2022 enfrenta ainda um grande desafio para sua conclusão: alcançar as pessoas que residem em condomínios. Sejam horizontais ou verticais, os arranjos condominiais estão mais presentes nas grandes cidades, uma vez que oferecem aos moradores uma opção de ambiente com mais tranquilidade e conforto em meio à vida corrida e insegura. Na Região Metropolitana de Fortaleza, por exemplo, são mais de 241 mil unidades, o que representa 18,2% dos domicílios, segundo dados de 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua voltada para o tema Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores.

Por outro lado, o isolamento voluntário representa um desafio maior para acessar esses condôminos, podendo dificultar diversas ações, como é o caso do recenseamento. Até esta segunda-feira (6), a capital Fortaleza possuía uma taxa de 4,36% moradores que se recusaram a responder ao Censo, além de 5,66% domicílios onde foram registradas ausências mesmo após as cinco visitas obrigatórias do recenseador. Ambos os índices são aproximadamente o dobro do registrado para o estado do Ceará, que tem 2,29% de recusas e 2,62% de ausências, revelando que, de fato, há uma maior dificuldade para realizar pesquisas domiciliares nos grandes centros por uma série de fatores.

São diversos os motivos alegados pelas pessoas que recusam a visita dos recenseadores: seja por receio de perder algum benefício governamental, por temor de cair em algum golpe ou de ser vítima de algum crime, por falta de tempo para responder à pesquisa, por desconhecimento do que é o Censo e da sua importância para o país, por confundir a operação censitária com ação de um político ou partido específico, entre outros. Nos condomínios, o desafio se torna bem maior, pois muitas outras barreiras se impõem, e o impedimento pode ocorrer ainda com o síndico, o porteiro ou a portaria eletrônica, sem que o recenseador sequer tenha conseguido falar diretamente com os moradores.

As dificuldades e as estratégias para superá-las

“Já teve caso de uma recenseadora me ligar chorando, dizendo que não aguentava mais, porque foi humilhada por uma moradora. Então é muito difícil. Esse é um dos motivos para o alto número de desistências”. É o que relata Lucas Otávio Braga, que é Agente Censitário Supervisor (ACS) e trabalha em dois bairros da capital com predomínio de condomínios: Meireles e Varjota. Ele conseguiu prestar o devido apoio à recenseadora em questão, que acabou não desistindo do trabalho. Mas em muitos outros casos fica difícil persistir. Por conta dessa escassez de mão de obra, Lucas precisou assumir o papel de recenseador em sua área e ir também a campo para desfazer as recusas.

Lucas menciona que a barreira mais difícil de transpor se dá antes mesmo de enfrentar a hostilidade de alguns moradores: ela aparece ainda na tentativa de estabelecer o primeiro contato com o condomínio. “Portaria eletrônica é o maior desafio que a gente tem. Porque é uma demora, e passa pra um, passa pra outro, e a gente termina perdendo o nosso tempo. Já os porteiros, alguns são bem receptivos, mas tem outros que não não querem autorizar nossa entrada, nem fazer o contato com o síndico. E também já aconteceu várias vezes de o próprio síndico não permitir”, relata o supervisor, que observa que essas e outras dificuldades encontradas no trabalho de campo acabam gerando um impacto direto no ritmo da coleta.


O supervisor Lucas Braga acabou assumindo a função de recenseador para desfazer as recusas em condomínios.

“Diminuir ao máximo as recusas não depende só da gente, infelizmente”, lamenta também o recenseador Jonnathan Veras, que está trabalhando desde o início do Censo. Nesses seis meses de coleta, ele já conseguiu recensear cerca de 80 condomínios nos bairros Aldeota, Cocó e Papicu. “Nos prédios que já trabalhei, praticamente todos os moradores me receberam. Sempre tem um ou outro que não quer responder. Mas eu fico bem satisfeito quando consigo a maioria”, relata o recenseador.

Para conseguir ter uma boa produtividade em meio a tantas dificuldades, Jonnathan precisou desenvolver algumas estratégias que têm facilitado muito o seu trabalho. “No primeiro contato, é importante sempre buscar falar com o síndico ou administrador. O porteiro pode ajudar muito, mas ele não vai abrir a porta do prédio para você. Uma vez autorizada a entrada, eu costumo ficar na portaria ou no salão de festas. Dependendo do número de apartamentos no condomínio, eu seleciono um horário, ou então fico o dia todo, até o começo da noite. Eu faço isso exatamente para conseguir encontrar todos os moradores, no horário que eles passarem por ali”, conclui o recenseador, que já acumula mais de dois mil questionários realizados.


O recenseador Jonnathan Veras traça estratégias para driblar as recusas em áreas de condomínios.

De portas e braços abertos para o Censo

No dia 13 de janeiro, a imagem de uma recenseadora chamou a atenção no Twitter. Na fotografia, ela segurava com uma mão o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC) e com a outra acariciava uma cadelinha de olhar apaixonado. A cena registrada recebeu a seguinte legenda: “Receba bem os recenseadores do IBGE”.


A cadelinha Isadora recebeu a recenseadora do IBGE com muito carinho.

A postagem, que recebeu centenas de curtidas, foi feita pela professora universitária Luiza Lima. Ela reside em Fortaleza-CE, no bairro Papicu, área da cidade repleta de condomínios. Diferentemente de muitas pessoas na região, que se recusam a atender aos profissionais do IBGE, Luiza relata que não viu qualquer dificuldade ou perigo em receber a recenseadora: “O porteiro interfonou perguntando se ela podia subir, ou se eu preferia responder no hall do prédio. Preferi que ela subisse. A entrevista foi bem tranquila e rápida”.

A boa acolhida não veio apenas da parte de Luiza, mas também de Isadora, a cadelinha que aparece na fotografia. “Ela é muito receptiva com as pessoas, até demais. Fica sempre eufórica, querendo pular em cima e lamber. Com a recenseadora foi bem tranquilo, ela até deitou no colo da moça. Ainda bem que a recenseadora gostava de cachorro!”, comentou a moradora, que já está com a cadelinha Isadora há um ano.


A cadelinha Isadora, que está com Luiza Lima há um ano, costuma ser muito receptiva com as visitas.

“A recepção da Luiza foi muito boa. E a da cadelinha mais ainda”, agradeceu Isabella Vieira, a recenseadora que aparece na fotografia compartilhada. Ela está trabalhando no bairro e já realizou mais de 800 questionários. “Gostaria de dizer que as pessoas não deixassem de responder ao Censo. Que recebam o recenseador quando ele estiver em seu condomínio, ou entrem em contato a partir do número que é disponibilizado na folha de recado”, afirmou Isabella, mencionando os avisos que são deixados pelos recenseadores na caixa de correios dos moradores ausentes.

“O Censo é um trabalho importante, e é nosso dever receber bem os recenseadores, para que eles também se sintam confortáveis em nossa casa. As respostas geram informações essenciais para o planejamento público. E é um momento só, rapidinho, não custa nada receber os profissionais do IBGE”, completou a moradora Luiza Lima, deixando também seu apelo por uma maior abertura à operação censitária.

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