Aos 73 anos de idade, recenseador de Várzea Alegre é o mais velho em atuação no Ceará

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

22/12/2022 15h52 | Atualizado em 22/12/2022 15h52

“Estou psicologicamente e fisicamente muito bem”, diz Antônio Francisco da Silva, o “Antônio Nen” de Várzea Alegre, que, no alto de seus 73 anos, é o mais longevo recenseador a atuar na coleta do Censo Demográfico 2022 no Ceará. E ele tem não apenas experiência de vida, mas também de IBGE: este é o seu quarto Censo, tendo participado de outros dois Demográficos, em 1980 e 1991, e de um Agropecuário, em 1995.

Além de atuar como dedicado recenseador, Antônio de Nen desenvolveu ao longo de suas mais de sete décadas de vida inúmeras outras atividades em prol de seus conterrâneos, tornando-se uma liderança bastante ativa no município. De produtor de mudas frutíferas a presidente da Câmara de Vereadores, Seu Antônio tem uma biografia repleta de ações voltadas ao bem comum, que servem de inspiração às pessoas ao seu redor.


Aos 73 anos, Antônio de Nen é o recenseador mais velho em atuação no Ceará

 


Seu Antônio está fazendo o recenseamento em seu município, Várzea Alegre-CE.

Uma história de engajamento social

Durante as quase duas décadas em que não esteve participando de nenhum Censo, Seu Antônio não ficou parado, tendo se engajado em diversos projetos sociais na sua comunidade. Natural do Sítio Ubaldinho, no distrito de Naraniú, zona rural do município, ele preside há mais de 20 anos a Instituição Sócio-Comunitária da Agrovila do Ubaldinho (ISCA). A organização foi criada para atender às famílias que são remanescentes da área onde foi construído um açude público.

Seu Antônio também é o atual presidente do Lions Club no município, grupo local de uma das maiores organizações internacionais voltadas à promoção de causas humanitárias e prestação de serviços nas comunidades. Além de tudo isso, ele também chegou a ser vereador de Várzea Alegre por 22 anos consecutivos desde 1983, tendo inclusive presidido a Câmara Municipal e a Comissão que elaborou a Lei Orgânica do município.

Isso só para citar suas principais realizações, mas Antônio de Nen é envolvido em muitas outras atividades no cotidiano. “Atualmente eu estou fazendo mudas de plantas frutíferas. E estou em contato com as escolas para que a gente faça um movimento e mostre à criançada a importância do meio ambiente”, conta, animado, sobre o mais novo projeto em que está envolvido. As mudas que produziu chegaram, inclusive, a ser distribuídas aos moradores por ele recenseados. “Sou um amante da natureza e preservo o meio ambiente”, destaca.

“Eu não posso ficar ocioso. Quando eu estou sem fazer nada, eu sofro”, conta o longevo recenseador, que diz ter sofrido muito durante o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19. “Eu gosto tanto do trabalho, que quando chegar o próximo Censo Agropecuário, se eu estiver com a mesma saúde, com a mesma disposição e com a mesma a cabeça como estou hoje – e se as minhas seis mulheres deixarem – vou me preparar para fazer mais um Censo”, brinca Seu Antônio, que logo explica quem são as seis mulheres: sua esposa, as três filhas e duas netas.

Mais um Censo para a conta

“Este ano a minha filha Cátia, quando soube da seleção, pensou: eu vou fazer uma surpresa para papai. Aí fez a minha inscrição e chegou em casa me dizendo”, conta Seu Antônio, que ficou bastante feliz com a iniciativa. A alegria foi ainda maior após sua aprovação nas provas do processo seletivo e do treinamento para a coleta. “Aqui em Várzea Alegre são 35 recenseadores. Só 10 tiraram nota superior à minha”, comemora o experiente recenseador, que imediatamente checou a lista de aprovados e constatou que era o mais velho classificado no estado.

Antonio de Nen revela estar se sentindo uma criança em meio a tanta juventude, e garantiu: “Vou me esforçar ao máximo para ser exemplo para estes jovens que estão comigo sendo recenseadores.” Ele diz estar dando dicas aos seus colegas mais novos a partir das experiências que viveu nos Censos passados, buscando evitar situações que venham a prejudicar o andamento da pesquisa.

Por outro lado, a idade mais avançada traz consigo novos desafios. “A dificuldade que eu tive foi durante o treinamento com o aparelho eletrônico. Os Censos que eu participei ainda eram no tempo que era tudo escrito, preenchendo o formulário”, confessa Seu Antônio, que, apesar do esforço que teve para aprender a manusear o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), considera que o treinamento foi suficiente para dominar esta nova tecnologia.

Histórias do trabalho de campo

A consciência social que Seu Antônio cultiva em toda a sua vida não poderia estar ausente da sua atuação no Censo. Para além da remuneração financeira, ele enxerga o trabalho censitário como uma oportunidade de realizar duas coisas que particularmente considera muito importantes: “Adoro estar em contato com outras pessoas, e, além disso, posso ajudar a saber a real situação do Brasil.”

Ele conta algumas das experiências que tem vivido nesta edição do recenseamento: “Visitei muitas residências de difícil acesso. Constatei muitas famílias em estado de extrema pobreza. Durante o meu trabalho, socorri idoso doente para o hospital. Alimentei gato preso em prédio abandonado e depois consegui libertá-lo. Encontrei cavalo amarrado no sol castigante e fiz a mudança para debaixo de uma árvore com sombra. Distribuí quase 150 mudas de plantas frutíferas por onde passei… Estou trabalhando com muita responsabilidade e estou adorando o Censo.”

Seu Antônio já recenseou 11 setores em seu município. Em cinco deles trabalhou sozinho, pois eram na zona urbana. Em outros seis, mais isolados, contou com a parceria do recenseador Elioenai de Sousa e com carro para fazer os deslocamentos. Apesar de ter percebido entre a população um maior receio em receber o Censo, por medo de golpes, Seu Antônio considera que não teve maiores dificuldades em ser aceito. “Modéstia à parte, eu não tive nenhuma rejeição, pois mesmo as pessoas que não me conheciam já tinham ouvido falar da minha história, gerando assim uma credibilidade”, comemora.

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