Ceará é o quarto estado mais avançado na PPE

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

07/12/2022 19h34 | Atualizado em 07/12/2022 19h34

Sendo uma das etapas do Censo Demográfico 2022, a Pesquisa de Pós-Enumeração (PPE) tem por propósito avaliar a cobertura e medir a qualidade da operação censitária. A coleta de pós-enumeração está sendo realizada em todo o país desde o mês de agosto, ocorrendo logo após encerrada a coleta regular nos setores selecionados.

Na Superintendência Estadual do IBGE no Ceará (SES/CE), a PPE está trabalhando com 214 setores, que correspondem a mais de 1% do total do estado (19.810 setores censitários). Segundo dados de 5 de dezembro, o Ceará já está com 59,1% da Pesquisa de Pós-Enumeração concluída, sendo o quarto estado mais avançado no andamento da pesquisa, atrás apenas do Piauí (74,0%), de Sergipe (69,0%) e do Maranhão (66,3%), e figurando bem acima da média nacional (42,4%).

Explicando a Pesquisa de Pós-Enumeração

Falhas são inevitáveis em qualquer operação estatística de grande proporção, como é o caso do Censo Demográfico, que envolve uma logística complexa, com milhares de pessoas em campo, equipamentos e sistemas complexos, etc. A PPE entra em cena justamente para identificar e mensurar possíveis divergências, diagnosticar onde podem estar ocorrendo falhas, orientar o usuário sobre como aplicar os dados adequadamente, além de prover subsídios para que melhorias possam ser implementadas em operações censitárias posteriores.

De modo que a PPE não busca eliminar eventuais imprecisões no Censo atual, mas seus resultados são úteis para que haja transparência sobre os resultados obtidos. “É como uma espécie de auditoria. Porque, diferentemente da supervisão, que ocorre durante o processo de coleta e busca corrigir o dado naquele momento, enquanto o Censo está sendo executado, na PPE a gente não está querendo corrigir. O objetivo da PPE é orientar o uso do produto final, e não altera esse resultado”, observa Gisella Colares, que está como Coordenadora da PPE na SES/CE.


Equipe da PPE no Ceará realiza importante trabalho de verificar a qualidade do Censo 2022

Embora, assim como no Censo, a PPE também utilize a metodologia de entrevistas nos domicílios, existem muitas diferenças importantes entre ambas as operações. Enquanto a proposta do Censo é cobrir 100% dos domicílios, a PPE é uma pesquisa amostral, que vai a uma parcela dos setores, não obstante nestes setores ela faça uma cobertura de todos os domicílios. Sobre a escolha dos setores, Gisella explica: “são definidos por um modelo estatístico, que é desenhado de acordo com parâmetros pré-definidos e o nível de significância que seja necessário para validar essa pesquisa.”

Outra diferença é que, enquanto o Censo tem dois tipos de questionários, o básico e o de amostra, a PPE possui um questionário único, direcionado justamente a medir a qualidade dos dados obtidos na coleta regular. Este questionário é menor, contendo perguntas voltadas a identificar as variáveis consideradas essenciais para prover boas informações para o Censo, tais como: data de nascimento, sexo, autodeclaração de cor ou raça, etc. “Aquelas variáveis que são fulcrais em todo tipo de política pública, e também no setor privado, para ver o mercado consumidor”, completa a Coordenadora.

A data de referência para as questões da PPE também é outra: é considerado o próprio dia em que é realizada a entrevista, e não o dia 31 de julho de 2022, como ocorre no Censo. “Também serão feitas algumas perguntas específicas buscando entender alguma movimentação que possa ter acontecido entre a data de referência do Censo e a data de referência da PPE. Esses dados são registrados no nosso questionário, e a gente vai identificar se houve alguma divergência”, conclui a servidora.

Traçando estratégias para superar as dificuldades

Por ser também uma pesquisa domiciliar, a PPE acaba lidando com as mesmas dificuldades que o Censo Demográfico tem enfrentado. “A questão orçamentária, de recursos humanos, de infraestrutura… A gente teve que dialogar muito entre as equipes pra trabalhar bem e ninguém ser prejudicado”, explica a Coordenadora da PPE. Isso tudo somado às adversidades ligadas ao trabalho de campo em si, que já exige tanto dos profissionais: “Você vai pro sol, enfrentar o calor. Dependendo do lugar, vai ser destratado pelas pessoas. E a gente tem que saber não levar isso para o lado pessoal, não deixar que isso nos abale”, menciona Gisella, que já esteve inclusive participando dessas visitas aos domicílios.


Em campo, a PPE enfrenta desafios que já fazem parte da rotina do Censo 2022.

Para além dos obstáculos corriqueiros, a PPE tem demandas bastante específicas, que tornam seu desafio ainda maior. Bianca Real, Analista Censitária e Assistente da PPE no Ceará, que atuou como supervisora da pesquisa em 2021, durante o Teste Nacional do Censo Demográfico, pontua, a partir de sua experiência, que a maior dificuldade na coleta de pós-enumeração é a questão do retorno ao domicílio: “As pessoas ficam na dúvida, já que o recenseador passou uma vez, e depois talvez foi também o supervisor. Então sempre perguntam: ‘Como é que eu vou saber se realmente é o Censo, se já fizeram a coleta aqui na minha casa?’”

A Analista explica que as repetidas visitas ao mesmo domicílio geram nas pessoas um receio de que se trate de um golpe, enquanto outras pensam que o recenseador se equivocou e está fazendo retrabalho, além daquelas que simplesmente se aborrecem por terem que responder novamente à pesquisa. Para driblar estas dificuldades, Bianca afirma que a primeira atitude é tranquilizar o morador: “Em todos os domicílios que a gente vai, é preciso explicar o que é a PPE. Temos que explicar que é uma pesquisa de qualidade e que esse retorno realmente faz parte da nossa metodologia.”

Às vezes, porém, esta breve explicação não será suficiente para gerar no morador um interesse em responder novamente à pesquisa do IBGE. Pensando nisso, a equipe da PPE no Ceará desenvolveu uma ótima estratégia de abordagem: “A gente está utilizando um sistema de fazer analogias para destacar a importância dessa pesquisa de qualidade. Quando a pessoa se recusa, a gente tenta mostrar argumentos de acordo com a situação e necessidade dela”, esclarece Natália Cavalcante, que é Agente Censitária Supervisora (ACS) da PPE, e está ajudando tanto em campo como também no trabalho administrativo.

Segundo essa estratégia, mais efetivo que expor em termos técnicos o que é a PPE, seria explicá-la a partir do tipo de conhecimento e experiência que o próprio informante demonstrar ter. Por exemplo, em um bairro com maior número de idosos, é interessante falar que a PPE é como um exame médico que precisa ser repetido para saber se o seu resultado está correto. Para uma dona de casa, um bom argumento é dizer que a PPE é como um teste de qualidade, similar àquele que precisa ser realizado em utensílios domésticos, como uma panela de pressão. “A gente usa os argumentos que têm a ver com a vida da pessoa, e ela se sensibiliza. A maioria das recusas a gente consegue quebrar ainda nessa primeira conversa”, comemora a ACS, que considera que a metodologia tem ajudado bastante na coleta.


Com muito diálogo e empatia, a equipe da PPE no Ceará segue desfazendo recusas.

Há casos, no entanto, em que nenhum argumentação será capaz de desfazer a resistência do morador. “Às vezes o informante não está num dia bom, em que ele queira responder. Então a gente tem que ter paciência, entender e voltar no momento que ele estiver disponível”, observa a Analista Bianca Real. “A gente não ultrapassa o limite do respeito, quando vê que a pessoa realmente não quer. Mas são poucos casos, e já teve recusas incríveis que conseguimos quebrar”, completa a ACS Natália. Apesar de tantas dificuldades enfrentadas, o Ceará está com uma taxa de apenas 0,76% de domicílios sem entrevista nos setores já finalizados da coleta de pós-enumeração.

Revelando os segredos para um bom resultado

O bom desempenho que a PPE vem tendo no Ceará pode ser atribuído a diversos fatores. A Analista Bianca Real aponta uma primeira razão bastante lógica para a coleta de pós-enumeração estar indo bem no Ceará: o fato de que a própria coleta regular do Censo também está adiantada no estado. “Para que a PPE trabalhe os seus setores, estes devem ser primeiro trabalhados no Censo. Então a gente depende muito da finalização do Censo pra que a PPE possa começar”, explica a Analista. Com 75,6% dos setores já recenseados e 22,1% em andamento, o Ceará é atualmente o décimo estado mais avançado do país na coleta do Censo Demográfico, o que reflete diretamente no andamento da PPE.

A Coordenadora Gisella Colares lembra também da importância do planejamento em cada uma das etapas da operação. Essa preocupação vem desde o início, ainda na composição do grupo, que foi formado com bastante antecedência (em 2021), e é uma das equipes da PPE no país com maior número de integrantes (cinco assistentes). “A gente teve um ano inteiro para se planejar, estudar os setores, fazer fluxogramas e construir métodos e ferramentas de trabalho que poderiam nos auxiliar. Além disso, o fato de a gente ter uma equipe suficiente, onde a gente pôde distribuir de forma equitativa as responsabilidades e as áreas, demonstra o comprometimento que a Superintendência do Ceará como um todo teve com a PPE”, relata Gisella, que destaca também a importância do diálogo e apoio das Coordenações do Censo para o sucesso da operação de pós-enumeração.


A equipe da PPE no Ceará, que conta com cinco assistentes, foi formada ainda em 2021

Já a Supervisora Natália menciona como ponto positivo a dedicação do grupo, que, para além dos cinco assistentes, passou a contar também com mais 45 ACS de todo o estado, os quais foram treinados em agosto de 2022 para atuar na PPE. “A nossa equipe está muito bem estruturada. Cada um de nós tem as suas particularidades, e a gente se uniu muito bem, porque o que faltou em um, este conseguiu ao juntar com o outro. E todos nós temos essa mesma determinação de fazer um trabalho bem feito mesmo num espaço tão curto de tempo. A nossa liderança também está sempre acompanhando a gente, tirando as dúvidas e conseguindo resolver as dificuldades pra podermos chegar ao nosso objetivo”, comenta a Supervisora, que se diz muito satisfeita em estar fazendo parte deste trabalho.


Em agosto de 2022, a equipe da PPE incorporou mais 45 ACS, treinados para supervisionar a coleta

“Planejamento, trabalho duro e, principalmente, consciente”, resume a Coordenadora Gisella, que aponta essa fórmula como a razão do trabalho bem-sucedido. “Não é só pelo bom resultado, para estar na frente em alguma coisa. Mas é por saber para que isso vai servir, qual o propósito do que estamos fazendo. E eu busquei que cada pessoa da equipe tivesse consciência da importância das atitudes, dos controles e dos métodos que a gente está usando”, completa. Sobre o bom resultado que o Ceará tem alcançado em relação aos outros estados, ela conclui: “Eu gostaria que todo mundo tivesse tido as mesmas condições que nós tivemos para fazer a PPE. A gente sempre tem que pensar que o ideal é que todos nós consigamos fazer o nosso máximo, porque o nosso trabalho é um produto coletivo.”

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