Indígenas e quilombolas do interior do Ceará são visitados pelo IBGE para acompanhamento do Censo em seus territórios

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

25/10/2022 12h24 | Atualizado em 25/10/2022 12h24

Desde que foi iniciada a coleta censitária com os povos indígenas e quilombolas do Ceará, a Coordenação Técnica do Censo Demográfico 2022 no estado tem monitorado os trabalhos desenvolvidos nesses territórios, a fim de garantir a cobertura e qualidade dos dados. Como parte desse acompanhamento, estão sendo realizadas viagens a algumas dessas comunidades tradicionais do interior do estado onde foram identificadas possíveis dificuldades, buscando compreendê-las e solucioná-las juntamente às lideranças locais.

Entre os territórios supervisionados nas últimas semanas, estão a Comunidade Quilombola dos Mulatos, no município de Jardim-CE, que recebeu a equipe do IBGE em 29 de setembro, e as Terras Indígenas Córrego João Pereira, que fica entre Itarema-CE e Acaraú-CE, e Tremembé de Queimadas, em Acaraú-CE, que foram visitadas nos dias 5 e 6 de outubro, respectivamente. O Antropólogo e Analista Censitário de Povos e Comunidades Tradicionais (PCT), Fábio Jota, avalia que essas visitas foram bastante positivas: “Conseguimos tirar as dúvidas das comunidades e garantir a autorização das lideranças para que a coleta continue. Além disso, a ida a campo permite que possamos acompanhar o trabalho das equipes locais.”

“A nossa voz ecoou bastante longe”

No dia 29 de setembro, a Comunidade Quilombola dos Mulatos, que vive na Serra Boca da Mata na zona rural do município de Jardim-CE, recebeu a equipe do IBGE, que incluía, entre outros servidores, a Coordenadora de Área Joana D’arc Balbino, a Coordenadora Censitária de Subárea (CCS) Tainá Macedo e o Analista de PCT Fábio Jota.


Registros da visita do IBGE à Comunidade Quilombola dos Mulatos

A visita foi necessária porque a comunidade não havia sido mapeada previamente pela Base Territorial. Isso gerou desconfiança por parte dos moradores de que não seriam devidamente registrados como quilombolas no Censo, levando-os inclusive a não autorizar a entrada dos recenseadores na comunidade. “Nós visitamos a comunidade para explicar que o fato de não estar na Base não faria a comunidade ser deixada de lado, já que iríamos registrar a localidade como quilombola em cada endereço. Mostramos o procedimento no Dispositivo Móvel de Coleta (DMC) e pedimos desculpas pelo erro e pelas falhas na comunicação, e, assim, foi autorizada a entrada do IBGE na comunidade”, explicou o antropólogo Fábio Jota.

Josiana Pereira, líder da Comunidade dos Mulatos, menciona que desde 2021 o seu povo é reconhecido por meio de certidão de autodefinição quilombola emitida pela Fundação Cultural Palmares. Ela considera como uma grande vitória a inclusão de sua comunidade também no mapeamento do IBGE: “A nossa voz ecoou bastante longe e hoje a gente entra no Censo como povo tradicional. Esse Censo vai nos abrir novos horizontes, abrir portas que atualmente não estão abertas. Vamos ter a oportunidade de ter dados suficientes para trabalhar pela comunidade junto aos governos, para, assim, o meu povo evoluir ainda mais nas suas lutas, na sua resistência”, destaca Josiana.


Registros da visita do IBGE à Comunidade Quilombola dos Mulatos

O contato com a comunidade foi feito através da CCS Tainá Macedo, que ouviu a reivindicação do grupo e mediou a resolução da questão. Tainá se diz bastante empolgada com a coleta do Censo na comunidade quilombola. Ela acredita que o trabalho do IBGE com povos tradicionais é fundamental para lhes proporcionar a devida visibilidade. “Como o IBGE pretende retratar o Brasil, então precisa separar um pedacinho ali na foto para essa população que já sofreu tanto e que luta até hoje pelos seus direitos. E me deixa muito feliz saber que estou participando disso, que vou ajudar a retratar toda essa comunidade com as suas características, sua cultura e sua etnia”, comemora a CCS.

“Para mostrar que nós estamos aqui, nós existimos e resistimos”

Nos dias 5 e 6 de outubro, foi a vez de o IBGE visitar as Terras Indígenas Córrego João Pereira e Tremembé de Queimadas, respectivamente. Na equipe estavam os servidores da Coordenação Técnica do Censo Ana Eugênia Ribeiro e Paulo Cordeiro, o Coordenador Censitário de Subárea (CCS) João Carlos Freitas, o Coordenador de Área Raimundo Rogaciano e o Analista de PCT Fábio Jota. Para realizar as duas visitas, a equipe do IBGE contou também com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai).

No caso da Terra Indígena Córrego João Pereira, que fica entre os municípios de Itarema-CE e Acaraú-CE, a visita foi apenas para acompanhamento da coleta. Fernanda Nascimento, índia Tremembé e diretora da Escola Indígena Francisco Sales do Nascimento, que atende à comunidade, comemorou a presença do IBGE. “O Censo Demográfico traz a importância de conhecermos e reconhecermos realmente a nossa população em quantidade, em identificação, e também na questão da tradição. Porque temos nossos indígenas que ainda têm o receio de se autoidentificar, e com essa mobilização, com as conversas que a gente está trazendo pra nossa população, isso facilita”, pontua Fernanda.


Registros da visita do IBGE à Terra Indígena Córrego João Pereira

Já na Terra Indígena Tremembé de Queimadas, em Acaraú-CE, a presença do IBGE foi necessária porque o mapa apresentado na reunião de abordagem não correspondia ao território demarcado pela Funai, o que gerou desconfiança entre a comunidade. O temor era que parte dos moradores não fossem recenseados como indígenas, mesmo tendo sido explicados que havia Áreas de Interesse Operacional (AIO) cobrindo toda a localidade. “Para resolver isso, a Base Territorial criou um mapa provisório emergencial demonstrando os limites da Terra Indígena nos setores, e foi pactuado que o mesmo recenseador vai cobrir todas as áreas. A reunião tratou justamente disso, apresentamos o novo mapa e garantimos que toda a Terra Indígena seria recenseada como tal”, esclareceu o antropólogo Fábio Jota.


Registros da visita do IBGE à Terra Indígena Tremembé de Queimadas

“Pra nós é muito importante o trabalho do IBGE, e que seja feito de forma correta, pra gente poder ser reconhecido lá fora como realmente nós somos: povos indígenas”, destaca Elaine Cristina do Nascimento sobre a coleta censitária em sua comunidade. Elaine é professora e liderança em sua aldeia, e considera importantes os dados do Censo para o reconhecimento que seu povo necessita. “É importante pra gente poder mostrar para aquelas pessoas que dizem que não existem mais índios, mostrar que nós estamos aqui, nós existimos e resistimos”, conclui.

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