Recenseadores com produção acima da média colocam o Ceará em primeiro lugar no percentual de setores concluídos
23/09/2022 13h24 | Atualizado em 03/10/2022 11h14
Decorridos quase dois dos três meses da coleta censitária, alguns recenseadores se destacam por apresentarem uma produção acima da média em suas áreas de trabalho. Figurando há semanas como o primeiro estado em percentual de setores concluídos (34,8% dos seus 19.810 setores censitários já foram supervisionados e pagos, segundo dados de 22 de setembro), o Ceará tem vários relatos de recenseadores que já estão indo para o seu terceiro ou quarto setor de trabalho – e alguns até mais do que isso.
Os segredos da produtividade
“Eu gosto de desafios. Para onde quiser me jogar, eu vou”, garante Walber Marques, recenseador de Crateús, que comemora seus 18 setores concluídos e 1080 questionários realizados, tendo até o momento passado por apenas uma recusa. Ele atribui sua produtividade às habilidades que adquiriu em experiências profissionais anteriores: “Um fator que contribui é que eu tenho rápida aprendizagem, sou muito ágil com aparelhos eletrônicos, porque eu tenho um curso técnico em informática. Como já trabalhei também com setor de pessoal, e já fui motoboy, eu costumo sempre ser educado com a pessoa, pra convencer ela a responder.” Walber já recebeu o pagamento por 10 setores, e está aguardando apenas seu supervisor concluir a verificação dos outros oito para receber os demais pagamentos.
Walber Marques, recenseador em Crateús.
Apesar de tímido, Jaime Mariano, recenseador de Canindé, já concluiu as entrevistas em seis setores (quatro deles já pagos), cumprindo uma média de 25 questionários por dia. Para obter bons resultados, ele revela não ter nenhuma fórmula milagrosa, apenas muita disciplina: “É a execução do trabalho dentro do horário de expediente, algumas vezes me adaptando ao horário das pessoas no meu setor, e sempre procurando manter o foco e objetividade no serviço.” Jaime comemora ter sido sempre bem recebido nas residências do município em que está atuando: “As pessoas demonstram interesse pelo trabalho e colaboram com respostas objetivas e muito respeito. O trabalho se torna leve e agradável.”
Jaime Mariano, recenseador em Canindé.
Já Guilherme Fernandes, recenseador em Campos Sales, entende que sua produtividade diferenciada tem a ver com a especificidade da região em que está atuando: “Por eu estar em uma área predominantemente rural (inclusive os setores urbanos que eu fiz estão em áreas de predominância rural), é comum achar todos os moradores em casa. E mesmo quando não estão em casa, é fácil achar eles em áreas próximas. Isso faz com que a pendência nesses setores seja quase zero.” Guilherme, que já recebeu o pagamento por seis de seus oito setores concluídos, tem conseguido realizar até 60 questionários por dia. “A hospitalidade em setores rurais, como esperado, é bem alta. Muito diferente das cidades”, conclui o recenseador.
Guilherme Saraiva, recenseador em Campos Sales.
Os desafios das grandes cidades
O trabalho nas grandes cidades é bem mais complicado que no interior. Insegurança por conta da criminalidade, hostilidade por parte de alguns moradores, dificuldade de acesso aos condomínios, ou mesmo às zonas dominadas pelas facções são alguns dos problemas que fazem parte do cotidiano do recenseador que atua em regiões metropolitanas. Apesar de todos os obstáculos, é possível observar casos de sucesso.
Rosa Lima está recenseando na capital Fortaleza e já concluiu o seu quarto setor, acumulando mais de 450 questionários realizados. “Para mim não é acima da média, é até pouco”, admite a recenseadora, que tem consciência de que sua produtividade poderia ser até maior não fossem as dificuldades encontradas. Ela, que já teve três dos quatro setores trabalhados devidamente pagos, reconhece o valor que a vivência do Censo tem, para além da remuneração: “É uma experiência única, que vai contar muito no currículo. A gente conhece de perto a realidade de cada morador.”
Rosa Lima, recenseadora em Fortaleza.
“Tem algumas pessoas mais grossas e sem muita educação, porém graças a Deus é a minoria. Uma parte destes consigo ainda realizar o questionário, já outros não chegam sequer a dialogar”, conta Sabrina Santana, que já está trabalhando em seu sexto setor em Juazeiro do Norte, na Região Metropolitana do Cariri. Com cerca de 1500 questionários realizados, ela atribui sua produtividade excepcional à experiência em pesquisas domiciliares que havia adquirido durante os três anos que trabalhou como Agente de Pesquisa e Mapeamento (APM) na Agência do IBGE na cidade vizinha, Crato. Sabrina revela que também se sente motivada pelo plano que traçou para o dinheiro que está conseguindo obter com o Censo: “É a compra de uma motocicleta para que eu possa me locomover com maior facilidade. Como tenho esse objetivo, dou o meu máximo dentro do tempo que tenho disponível para me dedicar às pesquisas.”
Sabrina Santana, recenseadora em Juazeiro do Norte.
As táticas contra as recusas
“A estratégia que eu estou utilizando pra convencer o pessoal mais resistente é falar que o Censo não vai prejudicar ninguém em nada. Porque muita gente pensa que vai perder auxílio, aposentadoria, etc. Eu tento explicar da melhor maneira que aquilo é só pra ajudar”, conta José Emanuel do Nascimento, de Itapipoca, que revela que seu método de abordagem foi adquirido em trabalhos anteriores nos quais também precisou lidar com o público, como os quatro anos em que atuou no Cadastro Único do Governo Federal. Com 1073 questionários realizados em seis setores concluídos (quatro deles já pagos), Emanuel confessa: “Aqui na minha cidade eu peguei lugares maravilhosos de trabalhar. Por incrível que pareça o pior lugar daqui foi a minha própria rua.”
Emanuel do Nascimento, recenseador em Itapipoca.
Tendo optado por trabalhar na zona rural onde reside, a recenseadora Gessyka Dias, do município de Marco, aponta que, em seus cinco setores já concluídos, até agora não teve nenhuma recusa. “A estratégia é explicar o que é o Censo, como funciona, a importância dele. Dizer que, de todos os dados que a pessoa está informando ali, nada vai ser divulgado, porque tem o sigilo estatístico que é lei. Seu jeito de falar também tem que se encaixar no modo da cultura da pessoa, que é pra ela poder entender”, relata a recenseadora, citando várias táticas que adota para convencer as pessoas mais desconfiadas. “Você vai buscando alternativas. O importante é não desistir”, completa Gessyka, que já recebeu a remuneração por todos os setores concluídos.
Gessyka Dias, recenseadora em Marco.
Após 965 entrevistas realizadas, Geovani Saraiva está finalizando o sétimo setor (cinco deles já pagos), e diz que andou perto de enfrentar muitas recusas, mas conseguiu revertê-las: “Tem que ter um manejo apropriado com as pessoas, tem que saber conversar, tem que prestar atenção até no tom de voz que usa. E você tem que demonstrar segurança no que fala, confiança, empatia.” O recenseador de Ibicuitinga define a sua tarefa como um “trabalho de escuta”: “Às vezes tem que conversar sobre outros assuntos relacionados às dificuldades que a pessoa tem durante o dia a dia. E quando a pessoa estiver falando, escute. Obviamente não focar em outros assuntos, como, por exemplo, política. A gente tem que ser o mais neutro possível. É escutar e depois voltar para a pesquisa.”
Geovani Saraiva, recenseador em Ibicuitinga.
O incentivo aos colegas recenseadores
Baseados em suas experiências, boas e ruins, os recenseadores do Ceará deixam uma mensagem de incentivo sincera aos seus colegas:
Gessyka Dias, recenseadora de Marco: “No início é bem difícil a adaptação, pois não estamos acostumados com esse tipo de experiência. Mas está sendo gratificante conhecer mais sobre a realidade das pessoas e suas culturas. E para quem continua nessa jornada, assim como eu, digo que não desista, que continue se esforçando para dar o seu máximo e realizar essa pesquisa tão importante em todo o Brasil.”
Walber Marques, recenseador de Crateús: “Eu fiquei sabendo que muitos desistiram pela demora do pagamento, pela falta de acesso a alguns lugares, pela dificuldade do pessoal responder os questionários, pelas ignorâncias e até ameaças que a gente sofre. A mensagem que eu deixo é que não desistam, que vão até o fim. Porque a gente está com contribuindo pro Brasil, pro município e pra melhoria de vida das pessoas.”
José Emanuel do Nascimento, recenseador de Itapipoca: “Persista, trabalhe bastante, porque é muito melhor do que estar parado. A gente já sabia que a remuneração ia ser por produção. Então depende da gente também o pagamento. Claro que aconteceram muitas coisas de ruim - e ainda estão acontecendo - com os recenseadores. Eu entendo a realidade de cada um, mas pra mim está dando tudo certo. Eu tenho um objetivo muito claro na minha cabeça a respeito desse trabalho e sobre o que eu vou ganhar nele. Cada um procure o seu motivo, procure dentro de si porque você está trabalhando no IBGE. E tente dar o seu melhor, dentro da sua realidade.”
Geovani Saraiva, recenseador de Ibicuitinga: “Eu quero dizer primeiramente que o IBGE paga. Eu já participei do Censo Agro, e digo: o IBGE paga, toda instituição paga. Então, a gente tem que ir para além do trabalho ou do recurso financeiro. Eu considero o IBGE uma das fases mais importantes da minha vida. Você poder contribuir com estudos para os próximos dez anos, fazer parte da maior pesquisa do país, é uma experiência muito boa. São três meses em que vale a pena se dedicar, porque a gente está contribuindo para algo que vai ficar pra história. Eu considero que este é o ‘Censo dos Censos’. A população está vivendo uma fase muito complicada, então esse estudo é realmente importante pra trazer políticas públicas.”