Recenseamento pioneiro com comunidades quilombolas é iniciado no Ceará

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

30/08/2022 15h25 | Atualizado em 30/08/2022 15h25

A edição de 2022 do Censo Demográfico traz, entre algumas de suas importantes novidades, o recenseamento pioneiro da população quilombola brasileira. Pela primeira vez, quem reside em territórios quilombolas terá a possibilidade de fazer sua autodeclaração por meio da pergunta “você se considera quilombola?”, além de poder indicar o nome da comunidade a que pertence.

Segundo Fábio Jota, Antropólogo e Analista Censitário de Povos e Comunidades Tradicionais da Unidade Estadual do IBGE no Ceará (UE/CE), “esta é a primeira vez que o estado brasileiro vai às comunidades quilombolas, e a gente vai poder ter uma ideia real de qual é a população quilombola brasileira. A partir deste Censo, vamos saber quais são essas comunidades, quantas famílias nelas residem, como essas famílias são, quantos filhos elas têm, qual é a idade dessas pessoas, como é o acesso delas a emprego, a educação, a saneamento básico, água, como é a estrutura das casas, etc.”

De acordo com trabalho prévio de mapeamento realizado pelo IBGE, o Ceará possui 181 localidades quilombolas, sendo que 15 destas são territórios quilombolas oficialmente delimitados, e 62 são agrupamentos quilombolas. Na última semana, a UE/CE empreendeu suas primeiras ações da coleta censitária junto às comunidades quilombolas do estado. “Estamos confiantes no trabalho feito com as lideranças, que já vem desde o ano passado, e a gente acredita que agora vai ter uma boa entrada nessas comunidades e fazer uma boa coleta, conseguindo dados fidedignos e importantes pra essas pessoas”, afirma Fábio.

Cristina Quilombola, representante da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) no Ceará, comemora a iniciativa do IBGE, resultado de muita reivindicação e trabalho do movimento quilombola. “O Censo 2022 fortalece a busca por políticas públicas afirmativas que venham trazer bons frutos para a realidade do nosso povo negro e quilombola. É muito importante nós estarmos inseridos no Censo, essa foi uma luta bastante organizada, com debates voltados à construção coletiva. Por isso, esse é um momento histórico para as comunidades quilombolas.”

“Nós vamos ser muito mais reconhecidos pelo mundo afora”


Imprensa acompanha recenseamento na comunidade de Quilombo Boqueirãozinho em Caucaia-CE.

Na quarta-feira (17), foi dado o pontapé inicial da coleta do Censo 2022 nos territórios quilombolas por todo o país. No Ceará, para marcar o início dos trabalhos, foi feito um convite à imprensa local para acompanhamento do recenseamento em uma localidade quilombola do estado, tendo sido escolhida a comunidade remanescente de Quilombo Boqueirãozinho, em Caucaia-CE, região metropolitana da capital. A ação com a imprensa teve como propósito não apenas dar visibilidade a esse trabalho pioneiro do IBGE, mas sobretudo sensibilizar a população quilombola a responder ao Censo e fazer a autodeclaração, além de encorajar as lideranças quilombolas a abrirem suas comunidades para a operação censitária.

O ponto de encontro foi a sede da associação comunitária, e, de lá, as equipes de divulgação da UE/CE e da imprensa partiram para registrar a coleta do Censo em uma residência. Quem realizou o questionário foi a recenseadora Juraci Santos da Silva, que também é quilombola, da comunidade Quilombo Boqueirão da Arara, no mesmo município, Caucaia-CE. “Acho muito importante o Censo para as comunidades quilombolas, porque nós vamos ser muito mais reconhecidos pelo mundo afora”, comemora Juraci.

Quem também vibra pela presença do Censo é Maria Creuza Carvalho, presidente da associação comunitária de Quilombo Boqueirãozinho, que avalia a ação como positiva para as 260 famílias quilombolas da localidade. “Com esse Censo direcionado para as comunidades tradicionais, nós acreditamos que vamos ser vistos, vamos ser contados, as nossas necessidades vão ser mostradas e as melhorias para o nosso quilombo, com certeza, virão”, prevê a líder comunitária.

“É a primeira vez na história que eles vão aparecer”


Reunião com a comunidade quilombola de Souza em Porteiras-CE.

As ações com as comunidades quilombolas também foram iniciadas pelo interior do estado. No último domingo (21), a equipe ligada à Área de Juazeiro do Norte realizou um encontro com a comunidade quilombola de Souza em Porteiras, no sul do Ceará. Reunidos na associação comunitária, cerca de 40 moradores receberam os agentes do IBGE e ouviram com atenção a mensagem do Censo Demográfico 2022 e a importância desta edição do recenseamento para as populações indígenas e quilombolas do Brasil. Também foram apresentados os três recenseadores que vão trabalhar com os povos e comunidades tradicionais da região: Guilherme Tavares, Mateus Fernandes e David Lima.

Segundo cadastro feito pela própria comunidade, são 300 pessoas residentes. “Eles acharam muito interessante, e ficaram muito felizes com a nossa proposta e o nosso trabalho, porque estão sentindo que é a primeira vez na história que eles vão aparecer”, comenta a Coordenadora de área de Juazeiro do Norte, Joana Balbino, que afirmou ter sido a reunião um sucesso. A liderança da comunidade se comprometeu a ajudar o IBGE, fazendo a conscientização junto aos moradores enquanto a equipe de recenseadores realiza a coleta. “Após o Censo, quando forem divulgados os resultados, eles virão no IBGE pra ver o que nós apuramos com relação aos quilombolas, para, a partir desses dados, eles buscarem melhorias para sua comunidade”, conclui a coordenadora.

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