Controle de qualidade do Censo: Ceará realiza treinamento de supervisores para a Pesquisa de Pós-Enumeração

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

22/08/2022 15h24 | Atualizado em 22/08/2022 15h25

Entre os dias 15 a 19 de agosto, a Unidade Estadual do IBGE no Ceará (UE/CE) promoveu o Treinamento da Pesquisa de Pós-Enumeração (PPE), direcionado a formar os Agentes Censitários Supervisores (ACS) que atuarão na operação. A turma, composta por 45 treinandos de vários municípios do estado, recebeu a capacitação em sala de aula cedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Gisella Colares, Vagner Soares e Rodrigo Matos, do quadro permanente, e Bianca Bezerra e Pedro Phillipp Farias, analistas censitários, são os cinco servidores da UE/CE designados para trabalhar na PPE, os quais se revezaram na instrução do treinamento aos supervisores.


Da esquerda para a direita: Vagner, Phillipp, Bianca, Gisella e Rodrigo, instrutores do treinamento da PPE.

Sendo uma das etapas do Censo Demográfico 2022, mas mantendo a necessária independência operacional e estatística, a PPE tem por propósito avaliar a cobertura e medir a qualidade da coleta da operação censitária. A coleta de pós-enumeração será realizada em todo o país entre agosto e dezembro de 2022, ocorrendo logo após encerrada a coleta censitária regular nos setores selecionados. No Ceará, a PPE trabalhará com 214 setores, que correspondem a mais de 1% do total do estado (19.810 setores censitários).

“É como uma espécie de auditoria”

Falhas são inevitáveis em qualquer operação estatística de grande proporção, como é o caso do Censo Demográfico, que envolve uma logística complexa, com milhares de pessoas em campo, equipamentos e sistemas complexos, etc. A PPE entra em cena justamente para identificar e mensurar possíveis divergências, diagnosticar onde podem estar ocorrendofalhas, orientar o usuário sobre como aplicar os dados adequadamente, além de prover subsídios para que melhorias possam ser implementadas em operações censitárias posteriores.

De modo que a PPE não busca eliminar eventuais imprecisões no Censo atual, mas seus resultados são úteis para que haja transparência sobre os resultados obtidos. “É como uma espécie de auditoria. Porque, diferentemente da supervisão, que ocorre durante o processo de coleta e busca corrigir o dado naquele momento, enquanto o Censo está sendo executado, na PPE a gente não está querendo corrigir. O objetivo da PPE é orientar o uso do produto final, e não altera esse resultado”, observa Gisella Colares, que está como Supervisora da PPE na UE/CE.

Embora, assim como no Censo, a PPE também utilize a metodologia de entrevistas nos domicílios, existem muitas diferenças importantes entre ambas as operações. Enquanto a proposta do Censo é cobrir 100% dos domicílios, a PPE é uma pesquisa amostral, que vai a uma parcela dos setores, não obstante nestes setores ela faça uma cobertura de todos os domicílios. Sobre a escolha dos setores, Gisella explica: “são definidos por um modelo estatístico, que é desenhado de acordo com parâmetros pré-definidos e o nível de significância que seja necessário para validar essa pesquisa.”

Outra diferença é que, enquanto o Censo tem dois tipos de questionários, o básico e o de amostra, a PPE possui um questionário único, direcionado justamente a medir a qualidade dos dados obtidos na coleta regular. Este questionário é menor, contendo perguntas voltadas a identificar as variáveis consideradas essenciais para prover boas informações para o Censo, tais como: data de nascimento, sexo, autodeclaração de cor ou raça, etc. “Aquelas variáveis que são fulcrais em todo tipo de política pública, e também no setor privado, para ver o mercado consumidor”, completa a supervisora.

A data de referência para as questões da PPE também é outra: é considerada o próprio dia em que é realizada a entrevista, e não o dia 31 de julho de 2022, como ocorre no Censo. “Também serão feitas algumas perguntas específicas buscando entender alguma movimentação que possa ter acontecido entre a data de referência do Censo e a data de referência da PPE. Esses dados são registrados no nosso questionário, e a gente vai identificar se houve alguma divergência”, conclui a servidora.

“Um treinamento diferenciado”


Turma de supervisores atenta ao treinamento da PPE.

Por conta da independência estatística e operacional, o ACS que irá atuar na PPE não é o mesmo ACS do Censo. O treinamento dos supervisores da PPE é realizado em cinco dias, sendo mais curto que a capacitação para a operação censitária. As diferenças entre as coletas regular e de pós-enumeração também impactam nos conteúdos dos respectivos treinamentos, que apresentam as especificidades de cada operação aos profissionais em formação. “Como a gente tem diferenças metodológicas, de conceitos, de prazos, de tempo, então a gente tem que fornecer um treinamento diferenciado, que é o que a gente está fazendo agora”, relata Vagner Soares, instrutor do atual treinamento.

Vagner é servidor do quadro permanente e costuma trabalhar nas pesquisas domiciliares do IBGE. Ele foi convidado para a PPE justamente pela necessidade de profissionais com experiência nessa área. Por outro lado, Vagner também enxergou na pesquisa uma oportunidade de se aprofundar em temas de seu interesse: “A experiência está sendo muito boa, particularmente porque eu me interesso bastante por esse tipo de pesquisa de avaliação de qualidade, e porque a gente está colocando aqui em prática conceitos estatísticos, e trabalhando mais próximo da estatística do que em outras pesquisas.” Tanto Vagner como os demais instrutores da PPE já haviam ministrado os treinamentos do Censo. Agora eles aproveitam suas experiências prévias na instrução, bem como suas vivências em outras pesquisas do IBGE, para dar dicas mais específicas aos treinandos da PPE.

É o caso de Bianca Bezerra, analista censitária, que, por sua formação em engenharia ambiental, começou no IBGE trabalhando na geração de mapas na Base Territorial. Com a pandemia, ela foi transferida para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Covid-19 (PNAD Covid), onde desenvolveu uma boa compreensão dos conceitos utilizados nas pesquisas do Instituto. Com todos esses conhecimentos adquiridos, logo veio convite para que ela participasse da PPE. Mas a experiência que Bianca mais tem evocado ao ministrar o atual treinamento é a que ela teve no Teste Nacional do Censo Demográfico 2022, ocasião na qual atuou como supervisora da PPE, mesma função que será desempenhada pelos seus treinandos de agora.

Bianca cita algumas de suas vivências do evento-teste que têm sido úteis no treinamento: “Em relação às recusas, por exemplo, é bem diferente, porque o recenseador da PPE já pode estar indo pela quarta, quinta vez naquele domicílio. Eu vivi isso na pele, e eu sei que é mais difícil ainda. Então a gente já passa essa dificuldade também neste treinamento. Outra coisa muito importante é que eu era a única supervisora mulher na ocasião. Muita gente pode pensar que um trabalho de campo, pela questão da insegurança, seja um trabalho pra ser feito mais por homens. Então eu represento as mulheres que estão aqui nesse treinamento, e eu mostro pra elas que elas também são capazes.”

“A gente está fazendo história”


Treinandos e instrutores do treinamento da PPE.

Uma das 23 mulheres selecionadas para serem supervisoras da PPE é Thais Silva Cezar, que irá atuar no município de Crateús-CE. Ela participou do processo seletivo para ACS e, na hora da contratação, ficou sabendo que seria direcionada para o trabalho na PPE, pesquisa que não conhecia até então. Agora, com o treinamento, ela não apenas adquiriu conhecimento sobre a operação, como também reconhece a sua relevância para o Censo: “A gente faz essa pesquisa pra justamente saber porque ocorreu uma divergência, e saber se foi erro de instrução, se foi erro da própria compreensão do treinando, se foi o cansaço, etc. Por isso é uma pesquisa muito importante, porque a gente tem como detectar esses erros e o próximo Censo já vai vir melhor, mais aperfeiçoado.”

Thais diz estar muito animada para começar, pois já tinha muito tempo que estava sem trabalhar, dedicando-se totalmente aos estudos para concursos. Mesmo sendo um contrato temporário, a supervisora considera esta uma experiência enriquecedora: “Quando saiu a seleção do IBGE, eu vi uma oportunidade tanto de conhecer novas pessoas, sair um pouco de casa, ter uma nova experiência de trabalho, e também, porque não, de fazer história. Porque a gente está fazendo história, né? É uma experiência única. Não é uma coisa que acontece todo mês; é algo que acontece a cada década. É muito gratificante e um privilégio participar de uma pesquisa dessa proporção.”

Encerrado o treinamento, Thais e seus colegas ACS ficam no aguardo pela finalização dos setores selecionados para a PPE, que, uma vez liberados, passarão por uma atualização de quadras e faces. “Essa etapa é a organização do cadastro, que também faz parte do processo de verificação da PPE, e é fundamental pra ver se não houve uma omissão ou uma dupla contagem”, explica a Supervisora da PPE Gisela Collares.

Concluída a atualização, entram em cena os recenseadores, que, após um rápido treino, serão acompanhados em campo pelos ACS em uma supervisão inicial. Os recenseadores da PPE serão os mesmos do Censo, desde que estes não recebam os mesmos setores em que tiverem trabalhado na coleta censitária. Ao longo do trabalho na PPE, os recenseadores serão supervisionados ocasionalmente, seja por meio dos pedidos automáticos de supervisão ou pelas demandas dos próprios ACS.

A etapa seguinte é o pareamento dos dados, que será realizado em duas fases: primeiro um pareamento automático, feito pelo sistema, e, em seguida, um pareamento assistido, conduzido pelo agente humano utilizando as ferramentas do sistema. Ao final deste processo, se persistirem as divergências, uma próxima etapa é a de reconciliação, com retorno a campo pra checar qual a informação correta, se a do Censo ou a da PPE.

Mais notícias deste Estado