Com samba de roda e “banquete”, IBGE realiza REPACs em áreas quilombolas na Bahia

Editoria: Censo 2022 | Da Redação

11/04/2022 13h47 | Atualizado em 11/04/2022 13h58

O Censo Demográfico de 2022 será o primeiro a trazer dados específicos sobre a população quilombola, o que será fundamental para a implementação de políticas públicas voltadas a essas pessoas e suas comunidades.

Para explicar a importância do Censo para os Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs), Shirlene Lopes, coordenadora de área do município baiano de Santa Rita de Cássia (a 1.006 km de Salvador) e Ianna de Oliveira, coordenadora censitária de subárea local, realizaram duas Reuniões de Planejamento e Acompanhamento do Censo (REPACs) em comunidades quilombolas da região.

Nos dias 30 e 31 de março, as representantes do IBGE estiveram, respectivamente, na Área de Interesse Operacional (AIO) Santo Antônio, no município de Santa Rita de Cássia, e na AIO Buritizinho/Barra do Brejo, na zona rural de Formosa do Rio Preto. Ambas as reuniões contaram com lideranças locais, além de agentes comunitários de saúde e representantes de organizações que apoiam trabalhadores rurais e comunidades tradicionais.


REPAC na AIO Santo Antônio ocorreu em espaço aberto

A REPAC na AIO Santo Antônio ocorreu na localidade Cadois, em um local aberto rodeado por árvores, já a reunião em Buritizinho/Barra do Brejo se deu na escola municipal do local. Não havendo a possibilidade da utilização de recursos digitais, Shirlene e Ianna realizaram uma apresentação oral, usando exemplos e fatos da realidade local para facilitar a compreensão das pessoas. Além disso, foram levados mapas impressos dos municípios e das AIOs para dar a dimensão da operação que será realizada a partir de 1º de agosto.

Ianna conta que nas reuniões foram tratados assuntos como o processo de construção de AIOs, através da Base de Informações sobre os Setores Censitários (BIOS), e a importância de receber o recenseador e responder o questionário de forma verdadeira, para o melhor retrato daquele local.


Moradores da AIO Buritizinho/Barra do Brejo acompanham REPAC

Desafios, reconhecimento e cultura

Na presença das representantes do IBGE, as comunidades puderam tratar sobre as suas aflições em relação às carências locais. Foram trazidos temas como a falta de energia, água e as más condições de acessos aos locais.

Na AIO Santo Antônio houve também uma discussão bastante profunda sobre o reconhecimento da comunidade como quilombola. Segundo Shirlene, muitos moradores, apesar de cientes da questão histórica do local, não se reconheciam como tal.

“Eles estavam aflitos com a possibilidade de serem prejudicados caso se reconhecessem como quilombolas. Um relatou que tinham medo de perder as terras e não serem mais donos da própria casa, ou de que pessoas se aproveitassem da comunidade pra pegar recursos.”

Após ouvir essa questão, as coordenadoras fizeram questão de realçar à comunidade que o IBGE trabalha com a autodeclaração em relação à identificação enquanto quilombola e que todas as informações prestadas serão sigilosas, o que os ajudou a ter mais confiança.

Quando a discussão passou a ser sobre a cultura local, os moradores de ambas as comunidades se animaram, buscaram seus instrumentos, que eles mesmos confeccionam, e fizeram apresentações de samba de roda. “Nós tivemos que sair às 14h da AIO Santo Antônio, mas o pessoal se estendeu com essa festa até mais tarde. Essa questão da representatividade cultural foi uma coisa super espontânea”, comentou Shirlene. Ianna completou: “Percebemos a alegria e o orgulho dos moradores em celebrar seus costumes”.


REPAC contou com almoço preparado pelos moradores

Além da apresentação de música e dança, as representantes ibgeanas também foram servidas com um almoço que Ianna definiu como um “delicioso banquete”: feijão com ossada, arroz branco, picadinho de abóbora e farofa de feijão verde, sendo que a maior parte da comida vinha da própria plantação local.

“A inclusão da população quilombola no Censo é um ganho para o país, pois se temos que retratar o Brasil, é fundamental que nós revelemos todas as nossas características. Então, depois de todo o processo de luta desse povo, nós precisamos saber quais as suas condições de vida atualmente”, finalizou Ianna.

 

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